by José Emygdio de Carvalho Neto
Published on: Dec 21, 2006
Topic:
Type: Poetry


A dúvida da vida me faz duvidar
Se a própria vida é um ciclo ou um ciclone a arrastar
Pés descalços de quem não sabe ao menos andar
Se pretende pregar ou ajoelhar

A cor da sandália de São Francisco
Os pés de Jesus Cristo
A dor pálida de São Benedito
A procissão com bastardos arrependidos
As armas dos bandidos
O disparar dos discursos repetidos
As crianças com futuros já sucumbidos
A humanidade toda em seu eterno terno vazio
Frente a seu mundo nunca acabado
Nunca perfeito
Nunca preciso
Nunca encontrado
Sempre perdido
Sempre iludido
Com sua imperfeita perfeição
Ocupado com sua frustração
De não entender o infinito
Sua capacidade de persuasão

E ainda acreditam que nos julgarão

Viver, perguntarás,
É o sofrimento e dor?
Eu desprezo quem disse que devo sofrer para me salvar depois
A vida me instiga
A própria luz do caminhar
Anos e anos passam
E dizem que Ele não passará

Não passará!
Não passará!

Decidi-me, enfim.
Eu fico com os filhos de Caim

Pecados originais

Agradeço por ter nascido
Aos pés dos pecados originais
Vivo e como vivo
Sabendo das quimeras dos mortais
Da impotência dos onipotentes imortais
Saltarei, cairei e deitarei.
No tapete da lucidez dos prazeres carnais
No berço a balançar das questões divinamente banais

Olho e enxergo longe
Longe até demais
O infinito não é tão grande assim
Só tem medo de abismos quem não sabe voar

Eu prefiro o incerto!
Eu prefiro o incerto!
O erro ao acertar
O perder ao ganhar
O real ao enganar
A verdade ao se ocultar
O fazer ao deixar
O risco ao ver a vida passar e falar:
Não arrisquei
Porque o risco me traz
A dúvida da vida que me faz duvidar
Se a própria vida é um ciclo
Ou um ciclone a arrastar
Pés descalços de quem não sabe ao menos andar
Se pretende pregar ou ajoelhar

Vivo na história dos que altivos ousam a gritar:
Pregaram-me os joelhos
Antes que eu pudesse me levantar


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