by Efraim Batista de Souza Neto
Published on: Dec 12, 2007
Topic:
Type: Opinions

Protesto é realizado na Bolívia, motivo: construção das duas grandes hidrelétricas no rio Madeira, Amazonas, próximo a fronteira entre os dois países, chama a atenção para a importância dos conflitos envolvendo água e desenvolvimento na América do Sul. As várias disputas pelos usos da água sempre chamaram a atenção no continente e a desunião das águas conhecidas como transfronteiriças, sempre foram marcantes nos processos que envolveram a construção das sociedades latino-americanas.

Outro exemplo da falta de entendimento que envolve essa temática na América Latina é o confronto existente na Argente e Uruguai, protagonizado pelas decisões das empresas transnacionais Botnia e ENCE, envolvendo a instalação de fabricas de celulose na cidade uruguaia de Fray bentos, junto ao rio que divide os dois países. Do outro lado, Argentina, fica o balneário Gualeguaychú, cuja população se apavorou com a poluição que o rio sofrerá com as instalações das indústrias.

Pouco são os projetos, envolvendo águas transfronteiriças, que conseguem seguir em frente no mundo; sempre existe um interesse por trás do suposto desenvolvimento econômico local, muitas vezes o único foco, sobrepondo as questões religiosas, culturais e pessoais das comunidades locais com esse bem tão essencial para a manutenção da vida na Terra.

Água também é o principal ponto de disputas entre Bolívia e Chile. No fim do século XIX, as tropas chilenas venceram as bolivianas na Guerra do Pacífico e se apoderaram do litoral do país. Desde então a Bolívia pleiteia a reparação da agressão, em conflito tão intenso que os dois países sequer mantêm relações diplomáticas plenas, limitando-se ao nível consular.

Muitos debates já foram realizados em relação às águas transfronteiriças, ganhando maior destaque o Aqüífero Guarani, maior quantidade de água subterrânea do mundo, pertencente ao Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Muito precisa ser feito para que não cometamos os mesmos erros do passado. A história como sempre é deixada de lado, e projetos como a transposição do Rio São Francisco, bem como as usinas no Madeira, ganham importância maior do que àquelas que a realidade permite, proporcionando assim uma grande distorção nas questões que envolvem a usabilidade da água pelas populações locais; e assim, alimentando e reforçando os interesses dos conglomerados empresariais do agronegócio e das empreiteiras de construção civil.

“Na América do Sul, a tendência dessa primeira década do século XXI é a nacionalização da água, visando ao seu fornecimento adequado para a população mais pobre. No Bolívia, movimentos sociais em Cochabamba revertam a privatização da água, que se fez com base no aumento de tarifas e em leis draconianas que proibiam até a captação da água da chuva”. Trecho de Maurício Santoro.

Somente com a união dos interesses, principalmente àquelas que visam a melhoria da qualidade de vida da população e que atende aos interesses de um todo, e uma boa fomentação de gestão participativa, será possível construir uma consciência mais consolidada acerca das questões que envolvem a utilização da água. Espero que não demore muito para alcançarmos isso. Afinal, o problema da água é grave tão quanto a do aquecimento global.

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